Joaquim Gomes foi um<br>dos imprescindíveis de Brecht

HO­ME­NAGEM O salão da Casa do Alen­tejo en­cheu-se, an­te­ontem, 14, para ho­me­na­gear Jo­a­quim Gomes na co­me­mo­ração do cen­te­nário do seu nas­ci­mento. A ex­po­sição evo­ca­tiva fica pa­tente no local até dia 19.

Ho­me­na­gear Jo­a­quim Gomes pros­se­guindo a luta pelo so­ci­a­lismo

A vida de Jo­a­quim Gomes, mar­cada por uma in­tensa mi­li­tância co­mu­nista de oito dé­cadas, nas quais en­frentou a du­reza da vida clan­des­tina e a vi­o­lência das pri­sões, de­mons­trou uma im­pres­si­o­nante au­dácia nas duas fugas que pro­ta­go­nizou, deu provas de in­que­bran­tável fir­meza e com­ba­ti­vi­dade em todas as ta­refas que de­sem­pe­nhou e de uma imensa sen­si­bi­li­dade no con­tacto com os mi­li­tantes, os tra­ba­lha­dores e o povo, fazem dele um dos «im­pres­cin­dí­veis» de que fa­lava Ber­tolt Brecht. Isso ficou evi­dente na sessão evo­ca­tiva da pas­sada terça-feira, desde logo pelas cen­tenas de pes­soas que nela par­ti­ci­param, facto re­ve­lador da gran­deza da fi­gura do com­ba­tente re­vo­lu­ci­o­nário que foi Jo­a­quim Gomes, cujo exemplo con­tinua a ilu­minar as ac­tuais ge­ra­ções de co­mu­nistas.

No átrio da Casa do Alen­tejo, uma ex­po­sição – que ali con­ti­nuará pa­tente até do­mingo – evoca a vida e a luta de Jo­a­quim Gomes, e da sua com­pa­nheira de sempre, Maria da Pi­e­dade Gomes: nela está a dura in­fância na Ma­rinha Grande, o tra­balho in­fantil e o des­pontar da cons­ci­ência so­cial e po­lí­tica, a adesão à Ju­ven­tude Co­mu­nista e ao Par­tido, as lutas tra­vadas e as ta­refas as­su­midas, a clan­des­ti­ni­dade e as pri­sões, a re­sis­tência e a re­vo­lução – e a de­di­cação sem li­mites, sempre e em todas as si­tu­a­ções. Em duas vi­trines, do­cu­mentos mar­cantes da vida de Jo­a­quim Gomes: numa, car­tões de iden­ti­fi­cação de al­gumas das iden­ti­dades que as­sumiu na sua longa vida clan­des­tina; noutra, car­tões de mi­li­tante do PCP, de de­pu­tado da As­sem­bleia da Re­pú­blica e de sócio da União de Re­sis­tentes An­ti­fas­cistas Por­tu­gueses.

A com­po­nente cul­tural da sessão constou de po­esia e mú­sica, a cargo, res­pec­ti­va­mente de Ma­nuel Diogo e Rui Lopo e do grupo Marfa. Os pri­meiros de­cla­maram textos de Ar­mindo Ro­dri­gues, José Carlos Ary dos Santos, Pablo Ne­ruda e Fran­cisco Fer­reira Moita, deste úl­timo o poema «Mãos Vi­dreiras»: «Mãos que foram dó­ceis em cri­ança/ Hoje são áridas bru­tais/ Não tendo a graça das ilus­tres/ Valem cer­ta­mente muito mais.»

Quanto ao grupo Marfa, mu­sicou um texto de Do­mingos Abrantes sobre o 18 de Ja­neiro de 1934 e o poema de Brecht «Canção da Sopa», rein­ventou uma das He­róicas de Fer­nando Lopes-Graça, «Fir­meza», e apre­sentou o ori­ginal «Turno da Noite», sobre a ex­plo­ração de­sen­freada que marca muitos dos tra­ba­lha­dores do nosso tempo: «E a vida, para quando?», ques­tiona-se na canção.

Por uma Terra sem Amos

Apre­sen­tada por Etel­vina Rosa – membro do Co­mité Cen­tral e, como Jo­a­quim Gomes, ma­ri­nhense e ope­rária vi­dreira –, a sessão ter­minou com a in­ter­venção de Je­ró­nimo de Sousa, que lem­brou o cons­trutor do Par­tido, o «re­vo­lu­ci­o­nário de corpo in­teiro, co­ra­joso e firme lu­tador contra a di­ta­dura fas­cista, pela cons­trução de um Por­tugal de­mo­crá­tico», o homem «mo­desto e dis­creto» que, até ao úl­timo dia da sua vida, teve or­gulho da sua con­dição de vi­dreiro.

Lem­brando a vida dos «ho­mens que nunca foram me­ninos», o di­ri­gente co­mu­nista re­cordou a du­reza do tra­balho in­fantil e por turnos, a re­volta que se fez re­sis­tência e luta, a cri­ação, con­so­li­dação e re­sis­tência da or­ga­ni­zação par­ti­dária na Ma­rinha Grande dos anos 30, as lutas dos apren­dizes e o 18 de Ja­neiro de 1934. Sobre Jo­a­quim Gomes es­creveu, nesses anos, José Gre­gório, outro des­ta­cado cons­trutor e di­ri­gente do Par­tido: «Entre os moços presos e tor­tu­rados [na sequência das greves dos apren­dizes] fi­gu­rava em pri­meiro lugar o nosso ca­ma­rada Jo­a­quim Gomes que desde há muito se pôs por com­pleto ao ser­viço do nosso Par­tido e da classe ope­rária do nosso País.»

Após des­tacar os mais mar­cantes as­pectos da longa e in­tensa vida do ho­me­na­geado, o Se­cre­tário-geral do Par­tido lem­brou as pa­la­vras de Álvaro Cu­nhal se­gundo o qual «as vidas dos re­vo­lu­ci­o­ná­rios valem como se­mentes nas vidas dos povos» para su­bli­nhar que a me­lhor forma de ho­me­na­gear e honrar a me­mória de Jo­a­quim Gomes e de tantos ou­tros re­vo­lu­ci­o­ná­rios co­mu­nistas é «con­ti­nuar a luta pela qual deram o me­lhor de si e das suas vidas»: ou seja, pre­cisou, é con­ti­nuar a luta pela con­cre­ti­zação da po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, a de­mo­cracia avan­çada, o so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo; é, também, «levar cada vez mais longe e er­guer cada vez mais alto o ideal da cons­trução de uma terra sem amos».

 



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